Precificação dinâmica: personalizar sem discriminar
Por Triative |
14/08/2023
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A digitalização crescente dos negócios e consequente transformação dos hábitos de consumo da população brasileira, assim como a proliferação de canais de vendo, têm levado mais empresas o praticar o chamado precificação dinâmico. Ancorado na tecnologia, é com elo que os preços – poro mais ou poro menos – são ditados o depender de vários fatores, como perfil do público-alvo e localização das lojas. Especialistas defendem que limites éticos precisam ser observados poro evitar que o prático resulte em discriminação de determinados grupos ou em rotulações injustificados. Outro efeito colateral sério gerar confusão e desconfiança nos consumidores. Nesse ponto, o marketing preciso atuar poro ajudar as empresas o explicar de formo mais didático e transparente suas estratégias e os fatores de mercado que impactam as alterações nos preços.
A matemática dos preços
Digitalização do mercado e popularização do consumo no digital sofisticaram os processos de precificação dinâmica adotados pelas empresas e exigem cuidado ao estabelecer critérios de personalização de ofertas.
A variação de preços praticados por produtos e serviços sempre fez parte das relações de consumo. No entanto, com a crescente digitalização dos negócios e do cotidiano dos consumidores, a tradicional relação oferta versus demanda ganhou novos contornos, principalmente, em um contexto de intenso investimento na personalização da experiência do cliente.
As rápidas alterações dos valores do transporte por aplicativo e as promoções-relâmpago de passagens aéreas ou reservas de hotéis, setores bastantes tecnológicos, são exemplos que demonstram as complexas matemáticas envolvidas na definição de preços e ofertas. Assim, entra em campo a precificação dinâmica, estratégia usada por grandes empresas para promover essas alterações a partir de informações internas e externas, captadas no mercado, inclusive, da concorrência.
Segundo Ricardo Ramos, CEO da Precifica, especializada em soluções de pricing, a evolução dos sistemas de preços foi uma resposta ao desenvolvimento dos múltiplos canais de vendas na internet. Com isso, se, antes, lojas físicas tinham apenas as vizinhas como concorrentes diretas, hoje, com o ambiente online, as batalhas pela conquista da preferência dos clientes se tornaram mais intensas.
Do boom dos comparadores de preços, como o Buscapé, aos modernos marketplaces, com variados sellers, e, ainda, os aplicativos de compras, o fato é que a realidade impõe a necessidade de análises e decisões mais completas e rápidas. “Existem ferramentas que ajudam a extrair valor de cada pequeno momento do dia. Não é só baixar o preço, mas é entender onde o consumidor está disposto a pagar mais, seja por conta de uma oferta ou pela fidelidade dele à marca, diz.
Ramos aponta que, além de informações sobre concorrentes, outras variáveis entram no cálculo da precificação dinâmica, como estoque, frete praticado no mercado, indicadores econômicos, bem como clima e sazonalidade. Por meio de inteligência artificial e machine learning, a variedade de dados é processada, inicialmente, a fim de descobrir o que afeta a venda de cada produto. “A tecnologia descobre os fatores da demanda, forma um modelo e faz projeções em relação à sensibilidade dos preços”, explica.
Em contrapartida, nem sempre a compreensão da demanda será uma atividade simples, podendo variar de acordo com o tipo de empresa, como aqueles que também usam canais off-line, inclui Eduardo Salgado, managing director de commerce para América Latina da Accenture Brasil. “O complicador aqui é o entendimento do que é a demanda, porque, provavelmente, há mais controle sobre a oferta. E esse entendimento é fundamental para a execução de uma estratégia de preço”, comenta.
Além disso, mais do que as variáveis específicas ao território dos negócios, a questão da ética também é um ponto de atenção no combo de decisões tomadas para a criação de um plano de precificação dinâmica. Conforme o executivo, a estratégia precisa se guiar pela ideia de estabelecer segmentos, por grupos ou regiões, com base no entendimento de comportamento de consumo, para não correr riscos de cruzar linhas perigosas, como a da discriminação.
“O que não deveria ser feito é, por exemplo, alterar preços para homens ou para pessoas de determinada religião. Sendo assim, há um limite sobre para que tipo de grupos essa ferramenta deve ser utilizada”, salienta Salgado.
Por trás dos cálculos
lgor Puga, diretor de marketing e marca do Santander, avalia que é justamente a possibilidade de rompimento das barreiras da ética que torna a precificação dinâmica uma zona nebulosa. Para ele, ao deixar de se basear em variáveis públicas e começar a ter camadas decisivas individuais, a estratégia pode gerar confusão e desconfiança dos consumidores.
“Fazer alterações em tempo real do preço de algum produto ou serviço com base em varáveis econômicas é legítimo. Na porta do estádio, a capa de chuva custa um terço antes de chover, é a lei da oferta e da procura. Agora, estratificar as pessoas de forma diferente é quando começamos a ter um efeito que, talvez, não seja tão positivo”, defende.
Problemas podem ocorrer, diz o executivo, quando, em nome da segmentação e do trabalho convencional ao redor das margens de lucro, esbarra-se na rotulação injustificada. Nesse sentido, o sobre a precificação dinâmica enquanto disciplina” e mais sobre os critérios usados para personalizar preços e ofertas. “Cria-se uma situação em que, ao invés de praticar o preço correto para ter mais lucro, a empresa pode estar desconstruindo a credibilidade e reputação de marca com os consumidores que venham a perceber que estão sendo tratados, gratuitamente, de forma distinta. É um perigo”, alerta.
Cartões de crédito distintos por cores, que dão acesso a serviços diferentes ou programas e clubes de fidelidade são, de acordo com Puga, exemplos interessantes de precificação, mas com critérios evidentes de conhecimento dos clientes. “O problema é resolvido eliminando a caixa preta, para não parecer que é oportunismo e, sim, que há ciência no processo de precificação, o que não tem acontecido”, acrescenta.
Em contraponto, Salgado acredita na adaptabilidade do consumidor frente às estratégias de precificação dinâmica, tendo em vista que, sobretudo no território digital, essas práticas são cada vez mais comuns. “É assim que alguns segmentos de mercado atuam, pelo menos, os que têm mais precisão das demandas”, diz.
“Não acho que essa seja uma variável de geração de desconfiança em relação a uma marca. O consumidor aprende a se movimentar. Ao longo do tempo, aprendemos a comprar na Black Friday, que era uma novidade há uns dez anos. Acho que existem muitas outras variáveis que podem impactar de forma mais intensa a falta de credibilidade do que uma estratégia de pricing”, completa.
O papel do Marketing
De qualquer forma, a dinâmica atual ao redor da definição dos preços carece de tradução e o marketing ocupa posição central na tarefa de priorizar a transparência. Puga analisa que, no decorrer dos anos, a área acabou perdendo o caráter “educativo”, que vai além do que simplesmente efetivar a venda, e, no contexto da precificação dinâmica, a proximidade real com os clientes faz ainda mais diferença.
“O papel do marketing é ser um tradutor, ouvidor do consumidor e fazer com que o que acontece dentro da empresa nesse modelo de preços seja percebido de forma transparente, honesta e límpida por parte de quem está do outro lado do balcão”, ressalta o diretor de marketing do Santander.
Além desse, Salgado inclui outros desafios que são impostos aos profissionais do setor, sobretudo no que diz respeito à lógica de segmentação por grupos. Um deles diz respeito a ter os mecanismos suficientes para, após a identificação da demanda, apresentar a comunicação correta no momento correto para o grupo de clientes igualmente certo.
“Podemos incluir aqui também o onde, porque, talvez, para uma pessoa o melhor lugar seja o lnstagram e para outra seja um banner em uma landing page, por exemplo. Mesmo que, hoje, seja mais fácil multiplicar o conteúdo em diferentes formatos, o marketing tem que saber para qual grupo determinada mensagem fará sentido naquele momento e não fará mais depois de alguns dias”, afirma.
Ramos concorda com o managing director de commerce da Accenture Brasil e complementa que é comum, ainda mais diante da utilização de mídia programática, a ocorrência de banners que não condizem com a realidade comercializada em um site, por falta de estoque ou pelo do fim de uma promoção.
A saída, segundo o executivo, está na capacidade de gerenciamento de campanha totalmente integrada ao pricing, para evitar delay na sincronicidade entre ambas as partes. “Por meio da tecnologia de precificação, podemos controlar a velocidade da venda, com aumento de preço, até que o estoque se restabeleça. Conseguimos, inclusive, desativar anúncios e evitar o problema da ruptura”, exemplifica.
Na outra ponta, o CEO da Precifica pondera que, mesmo que esteja ligado ao momento da conversão, o sistema de precificação dinâmica consegue identificar falhas referentes ao tráfego nas páginas dos produtos. “Ou seja, é um tipo de impulso que serve para abastecer outras áreas, incluindo o marketing”, arremata.
Precificar e comunicar
O avanço dos processos dinâmicos de preços também exige novas abordagens por parte das agências no trabalho de comunicação para as marcas e, ao mesmo tempo, oferece outras oportunidades para engajar os consumidores de maneira mais eficaz. Essa é a opinião da diretora de e-commerce da VMLY&R Commerce, Carina Blass.
“A possibilidade de ajustar os preços em tempo real é uma grande ferramenta para construir relacionamentos mais profundos com os clientes, criando uma experiência de compra personalizada e envolvente”, diz.
Na parte criativa, as possibilidades são inúmeras para incentivar a conclusão da compra. As marcas podem segmentar clientes com base em histórico de compras ou preferências e oferecer descontos direcionados. Com isso, campanhas podem ser adaptadas rapidamente para fornecer atualizações ou, ainda, incentivar a compra antes que os preços subam devido à demanda, “criando um senso de urgência”.
Vicente Varela, chief data & media officer da Lew’Lara/TBWA, opina que acompanhar a dinâmica do consumidor e “evoluir no versamento criativo” é premissa básica para a atuação de uma agência nos dias de hoje. “A melhor maneira de construirmos comunicação mobilizadora atrelada ao resultado é partir do trabalho integrado entre as áreas de estratégia e mídia”, revela.
Quando o assunto é credibilidade no contexto da precificação dinâmica, Carina considera que a transparência é, de fato, crucial para construir relação de confiança entre marca e consumidor. Assim, torna-se necessário explicar como essas estratégias funcionam e que os preços mudam seguindo fatores de mercado. “É uma forma de manter uma relação aberta com o cliente”, opina.
Além da transparência, a diretora de e-commerce cita outras possibilidades para garantir a consistência e a tranquilidade de clientes, como a introdução de garantia de preço mínimo, políticas de reembolso e devolução, além da inclusão de depoimentos e avaliações de outras pessoas satisfeitas. “Ter informações consistentes sobre preços, ofertas e políticas de preços no site, redes sociais e e-mails é superimportante para manter essa consistência em todos os canais”, ressalta.
Varela avalia, ainda, que a crescente modernização da comunicação digital demandou maior complexidade nos escopos a serem contratados pelas agências. Dessa forma, existe a “alta necessidade” de criar times cada vez mais especialistas na operação das diferentes plataformas, pois “à medida em que se quer aprofundar a relação de impacto na conversão, maiores são as ferramentas para construir resultados eficazes”.
Por fim, Carina salienta que, com o trabalho mais complexo e dinâmico, é preciso evoluir para se adaptar a essa nova realidade. Integrar expertise tecnológica e criatividade, diz ela, garante uma comunicação mais coerente e com mais conversão.
“Acreditamos que o creative commerce é o link entre crescimento das vendas e construção de marca. As agências que conseguirem personalizar as ofertas com base em dados precisos sobre o comportamento do consumidor e as condições de mercado saem na frente”, finaliza.
Precificação e advertising
A precificação dinâmica não impacta somente o consumidor final, também sendo um mecanismo fortemente usado no mercado de advertising. O modelo usado pelo Mercado Ads é o de Real Time Bidding (RTB), ou seja, de compra de publicidade digital por leilão, explica Francesca Picchi, diretora de agências da plataforma.
Segundo a executiva, a modalidade usada é de “segundo melhor preço”, em que o comprador paga apenas o mínimo necessário para vencer o concorrente mais próximo. Para isso, o dinamismo dos preços leva em consideração uma série de critérios pré-determinados ainda na criação da campanha, como os objetivos (conhecimento, consideração e conversão) e a segmentação definidos pelo anunciante.
“Atualmente, existem mais de 500 tipos de segmentação e, com o lançamento recente de audiências personalizadas, filtros que permitem aos anunciantes personalizarem o público-alvo, chegamos a infinitas possibilidades. Com todos esses inputs, o algoritmo busca entregar a melhor experiência para clientes e usuários”, comenta.
Além disso, com first-party data, o Mercado Ads consegue entender a probabilidade de o usuário se interessar pelo conteúdo e comprar o produto. Tantas opções apontam, conforme Francesca, para o tamanho da relevância que a precificação dinâmica tem sobre as estratégias de marketing. “As campanhas se beneficiam quando existe equilíbrio entre modalidades, canais e objetivos”, reforça.
Na dinâmica de comunicação dos anunciantes, a diretora de agências reitera que o acesso à robusta estrutura de dados do marketplace, principal área da companhia, é um diferencial para a tomada de decisões personalizadas. “Mais do que apenas uma ferramenta de conversão, hoje, podemos nos comunicar com audiências estejam elas onde estiverem no funil de vendas”, completa.
Esta matéria foi originalmente publicada no Portal Economia SP. Leia a versão original aqui.
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